13 out 2012 IRAQUE
Vestido como o Super-Homem, Jeener, de cinco
anos de idade, brinca pelos corredores da igreja. Ele é o filho mais velho do
pastor Majeed e sua esposa Shilaan; todos moram em Erbil, capital do Curdistão,
no norte do Iraque. Mas, sob a lei iraquiana, este pequeno Superman não existe. Seu irmão, de 10 meses de idade,
também é um habitante “inexistente” do país. Entenda o porquê.
A lei iraquiana afirma
que, cada criança nascida no país, mesmo em uma família cristã, sob contexto
muçulmano, deve ser registrada como muçulmana. Os pais de Jeener nasceram em um
lar de seguidores de Maomé, por isso, em seus documentos de identificação consta
o islamismo como sendo a religião de ambos. Mudar este registro, de muçulmano
para cristão, é praticamente impossível no país. Por isso, os filhos do casal
só podem ser registrados como muçulmanos.
Majeed, pastor da Igreja curda de Erbil,
converteu-se ao cristianismo há mais de doze anos, mas, em sua identidade, ele
ainda é muçulmano. Esse fator o limita em suas atividades religiosas e torna
mais difícil a sua passagem pelas aldeias de maioria cristã ao redor da cidade.
No entanto, para os seus filhos, as consequências são maiores, pois os pais de
Jeener não querem registrá-los como muçulmanos, mas como cristãos.
"O registro de uma criança no Iraque é fundamental, pois caso contrário,
ela não terá direito a tratamento médico e educação. Normalmente, cristãos
registram seus filhos para que eles não sejam excluídos desses dois fatores
essenciais. Para isso, porém, os pequenos precisam ser identificados como
muçulmanos", explica Majeed.
Primeiro
teste
"Nós entendemos esta lei como
uma grande injustiça. Eu sou pastor, pensei que deveria dar o exemplo",
disse Majeed. Ele e sua esposa optaram por não registrar seus filhos como
muçulmanos. Eles decidiram que o caso de seus filhos serviria como um teste
para todos os outros cristãos iraquianos que, no passado, eram muçulmanos.
Assim, quando Jeener nasceu, há cinco anos, o
casal encaminhou-se ao ato de coragem de registrá-lo como cristão. Mas isso era
impossível. Os funcionários alegaram que só registrariam o bebê como muçulmano.
Majeed e Shilaan fizeram tudo o que era possível para que seu filho fosse
identificado como cristão; eles acreditavam que o sucesso de seu caso podia
abrir as portas para outras crianças nascidas em famílias cristãs.
Por duas vezes, eles foram à Justiça pedir ao
juiz para que o cristianismo fosse considerado uma opção. Mas o magistrado
respondeu negativamente, referindo-se à regra oficial que indica que a mudança
de religião muçulmana para cristã é proibida. Ele advertiu-os a não retornarem
ao tribunal por este motivo. Mas o casal cristão prosseguiu em sua reivindicação.
"Nós até fomos ao parlamento, mas também
lá nosso pedido foi negado", contou o pastor, observando como seu filho
mais novo tem o equilíbrio das pernas bastante instável, segurando uma cadeira
com as mãos.
O casal agora está focado em suas duas últimas
opções. A primeira é apelar por intermédio do ex-presidente os EUA Jimmy
Carter. Majeed espera que ele venha visitar o Iraque. A outra possibilidade é
um pedido oficial à Corte Internacional de Justiça.
Por hora, Majeed e Shilaan conseguiram
arranjar um lugar para Jeener em um jardim de infância. "Ninguém permite
crianças não registradas nas classes. Nós já sabemos que a escola primária não
poderá aceitá-lo quando ele completar sete anos", explica o pai. As
crianças no norte do Iraque iniciam a escola primária nessa idade.
De
volta à igreja, Jeener salta de uma das cadeiras do templo, sem saber do que
seu pai está falando no púlpito. O Superman desenhado em sua camiseta segue seus
passos, enquanto ele atravessa o edifício da congregação. Mesmo sem entender
ainda, ele já é uma vítima de discriminação, simplesmente por causa da fé de
sua família em Cristo.
Fonte: Portas Abertas
Por Mayelli Ferreira.